No Blog do Projecto Safira, o Gabriel Mateus publicou um artigo de veras interessante e que em teoria (leia-se empiricamente) já se sabia há muitoooo tempo atrás...
"Alguns estudos sugerem que possam existir em vários tipos de cancro um núcleo duro de células capazes de resistir a todos os tratamentos existentes, que dão origem a todas as células malignas. Estas células-semente são as chamadas células estaminais de cancro e poderão suportar o crescimento dos tumores e criar metástases.
No encontro anual de 2015 da American Association for Cancer Research, um estudo desenvolvido pelo Centro de Cancro da Universidade do Colorado mostrou que administrar oralmente o químico silibinina, extraído a partir da planta cardo-mariano, poderá diminuir a capacidade de células estaminais de cancro colorretalpromoverem o desenvolvimento da doença. Quando células estaminais de tumores desenvolvidos em condições ricas em silibinina foram reintroduzidas em novos modelos, essas células não conseguiram desenvolver tumores igualmente agressivos na ausência de silibinina.
De acordo com Rajesh Agarwal, um dos autores do estudo, “tumores de ratos que foram inicialmente alimentados com silibinina, tinham menos células estaminais de cancro, eram menores, tinham metabolismos mais baixos e motraram um crescimento inferior de novos vasos sanguíneos. Quando estas células estaminais de cancro de tumores de ratos alimentados com silibinina foram reintroduzidos em novos ratos, descobrimos que estas células estaminais tinham perdido a sua capacidade de fazerem crescer novas células, mesmo na ausência de silibinina“.
A silibinina é uma substância potencialmentequimiopreventiva, não-tóxica, extraída dassementes do cardo-mariano. Os resultados apresentados por Agarwal e a sua equipa no ano passado mostraram que, em culturas de células, a silibinina afeta a sinalização celular associada com a formação e sobrevivência de células estaminais de cancro colorretal. Os novos resultados em modelo animal sugerem que a silibinina possa ser usada naprevenção ou tratamento do cancro colorretal no futuro.
Tal como as células estaminais, as células estaminais de cancro são células não-especializadas que se podem dividir e renovar por longos períodos de tempo e que dão origem a células especializadas. As pesquisas mais recentes têm confirmado aresistência destas células aos tratamentos com quimio e radioterapia.
A teoria das células estaminais de cancro foi reforçada quando em 1994 John Dick demonstrou que a Leucemia Mielóide Aguda obedece a uma organização hierárquica que tem origem numa célula hematopoiética primitiva. Esta descoberta popularizou um conceito já antigo: o de que o crescimento do cancro poderá estar dependentede uma pequena fração de células progenitoras. Estas células de cancro compropriedades de auto-renovação e pluripotência são geralmente chamadas decélulas estaminais de cancro.
Existem evidências cada vez mais claras de que as células estaminais de cancro são cruciais para a formação de tumores. Não só podem renovar-se, como gerar todos os outros tipos de células observadas num tumor. Dessa forma, deverá ser possível tratar o cancro caso sejam eliminadas todas as células estaminais de um tumor, em vez de se atacar todas as células desse tumor, como acontece até agora.
Já se mostrou que estas células são capazes de iniciar a leucemia. Têm também surgido evidências que suportam a teoria de que estas células estaminais estejam presentes e promovam o crescimento de outros cancros, tais como: cérebro, mama, cólon, cabeça e pescoço, pulmão, fígado, melanoma, pâncreas e próstata, entre outros.
O conceito de células de cancro estaminais tem profundas implicações pbara o tratamento e prevenção do cancro. A falta de eficácia das quimioterapias no tratamento de cancros em fase avançada e metastizados requer novas abordagens que consigam alcançar e destruir especificamente a população de células estaminais de cancro.
Enquanto não surgem tratamentos que consigam eficazmente eliminar estas células, vários estudos têm mostrado propriedades quimiopreventivas muito promissoras contra as células estaminais de cancro em componentes naturalmente presentes em vários alimentos. Já são conhecidas várias propriedades quimiopreventivas dosulforafano, fitoquímico presente em crucíferas como os brócolos, às quais acrescenta-se a capacidade de eliminar essas células.
Um estudo recente testou as propriedades dosulforafano, fitoquímico presente nos brócolos ou nos germinados dos brócolos, tanto em culturas de células como em modelo animal. Os autores do estudo observaram como o sulforafano foi capaz de destruir as células estaminais de cancro evitando assim que novos tumores crescessem.
De acordo com o autor Duxin Sun, “o sulforafano tem sido estudado pelos seus efeitos no cancro, mas este estudo mostra que os seus benefícios passam por inibir as células estaminais de cancro da mama. Esta descoberta sugere o potencial do sulforafano ou do extrato de brócolos em prevenir ou tratar o cancro atingindo seletivamente as células de cancro estaminais“.
Ainda outro estudo desenvolvido na Universidade de Heidelberg mostrou que o sulforafano não só é capaz de inibir as células estaminais de cancro no pâncreas e na próstata como potência a acção citotóxica de certos agentes quimioterapêuticos, aumentando significativamente a eficácia destes tratamentos. De acordo com os investigadores a combinação destes dois compostos poderia aumentar a eficácia e reduzir a dose de fármacos necessários para o tratamentos destes cancros."
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