Um dos argumentos a favor de obtermos as substâncias com propriedades anticancerígenas através dos alimentos e não dos suplementos passa pelo potencial sinergético entre si. Vários estudos mostram que Aristóteles tinha razão quando dizia que o todo é maior do que a simples soma das suas partes. Várias razões contribuem para a importância do alimento completo para uma dieta quimiopreventiva:
- A interação entre nutrientes e substâncias: vários estudos mostram como a interação de certas moléculas potencia os seus efeitos. Esta sinergia pode acontecer entre os componentes de um alimento ou entre vários alimentos diferentes.
- Os vários mecanismos associados ao desenvolvimento do cancro: uma vez que nenhum alimento contém, só por si, todas moléculas que possam agir sobre todos esses processos, será necessário combinar vários alimentos e garantir que várias moléculas diferentes, com um espectro grande de ação sobre os mecanismos do cancro estejam presentes numa refeição. Trata-se de “quanto mais melhor”. Existem milhares de fitoquímicos nos alimentos vegetais, sendo uma grande parte deles desconhecidos, os quais podem ter propriedades importantes na quimioprevenção ainda por descobrir.
Já sabemos que a soja parece contribuir para uma diminuição de risco da próstata: de acordo com o relatório da WCRF/AICR, embora as evidências ainda não sejam suficientemente convincentes para uma conclusão definitiva, a maior parte dos 10 estudos analisados pelo painel sugerem que um maior consumo de soja está associado a um menor risco de cancro da próstata. A soja é rica em fitoquímicos, especificamente as isoflavonas, que poderão ter várias propriedades anticancerígenas. Em estudos de laboratório as isoflavonas inibem o crescimento de células de cancro da próstata. Um estudo de 6 anos a mais de 12000 homens Adventistas nos EUA, revelou que aqueles que bebiam mais leite de soja apresentavam um risco 70% inferior de cancro da próstata quando comparados com aqueles que nunca bebem. Mais recentemente, um estudo com uma amostra de mais de 43000 homens japoneses mostrou que o consumo de alimentos à base de soja está associado a um menor risco de cancro da próstata localizado em homens com idades superiores a 60 anos. Uma meta-análise feita em 2009, onde são avaliados os resultados de 14 estudos diferentes, conclui que o consumo regular de soja reduz em 26% o risco de cancro da próstata. Além da soja, outras leguminosas parecem ter benefícios na prevenção deste cancro.
Da mesma maneira, o tomate, mais especificamente um dos seus componentes(licopeno), está associado a um menor risco de cancro da próstata: a maior parte dos estudos disponíveis sugerem que um contributo elevado em alimentos ricos em licopeno está associado a um menor risco de cancro da próstata. De acordo com o relatório da WCRF/AICR, uma dieta rica em licopeno poderia prevenir cerca de11% de casos de cancro da próstata nos EUA. Uma meta-análise de 21 estudos conclui que o consumo de licopeno está associado a uma diminuição de risco de cancro da próstata.
O que um novo estudo, desenvolvido na Universidade de Illinois e financiado peloNational Cancer Institute vem dizer é que o potencial quimiopreventivo destes dois alimentos parece ser maior quando conjugados na mesma refeição. “No nosso estudo usámos ratos que foram geneticamente modificados de forma a desenvolverem uma forma agressiva de cancro da próstata. Mesmo assim, metade dos animais que consumiram tomate e soja não apresentaram lesões cancerígenas na próstata no final do estudo. Todos os ratos no grupo de controlo (sem tomate nem soja) desenvolveram a doença”, explica John Erdman, um professor de Nutrição da Universidade de Illinois.
Desde o momento em que os animais tinham de 4 a 18 meses de idade foram alimentados com uma das seguintes quatro dietas:
- 10% de tomate em pó inteiro;
- 2% de gérmen de soja;
- tomate em pó e gérmen de soja;
- grupo de controlo que não se alimentou nem de tomate nem de soja.
De acordo com Erdman, “consumir tomate, soja e uma combinação dos dois, todos reduziram significativamente a incidência de cancro da próstata. Mas a combinação foi a que nos deu melhores resultados. Apenas 45% dos ratos alimentados com os dois desenvolveram a doença. Em comparação 61% dos animais do grupo do tomate e 66% dos animais do grupo da soja desenvolveram a doença”. Os níveis de isoflavonas de soja e da próstata nos ratos são semelhantes aos que podemos encontrar nos homens asiáticos que consumam 1 a 2 porções diárias de soja por dia. Erdman lembra que em países onde a soja é consumida regularmente a incidência de cancro da próstata é significativamente inferior. A confirmar estes resultados, um estudo clínico de fase II sugere que o consumo de produtos ricos em licopeno e soja é mais eficaz a diminuir os níveis de PSA do cancro da próstata do que quando consumido individualmente.
Qual a quantidade de soja que seria necessário consumir para se obterem os mesmos efeitos observados neste estudo?
Um dos co-autores responde que “os resultados deste estudo sugerem que cerca de 3 a 4 porções de tomate por semana e 1 a 2 porções de soja por dia poderiam ser suficientes para diminuir o risco de cancro da próstata. Os investigadores alertam para a importância de se consumirem uma grande variedade de vegetais e frutos inteiros: “é melhor consumir um tomate inteiro do que tomar um suplemento de licopeno. É melhor beber leite de soja do que tomar isoflavonas de soja. Quando consumimos alimentos completos, expomo-nos a uma vasta gama de componentes bioativos e anticancerígenos presentes nesses alimentos”, sublinha Erdman.
A recomendação de se consumir o alimento completo é reforçada pela forma como atuou o gérmen de soja neste estudo. Erdman notou que o gérmen da soja tem um perfil de isoflavonas muito diferente do resto do feijão de soja, sendo muito rico em daidzeínae gliciteína e pobre em genisteína. Embora esta última seja geralmente mais valorizada pelas suas propriedades, estes investigadores observaram que embora o produto de soja que utilizaram seja pobre em genisteína, ainda assim foi muito eficaz a reduzir a incidência de cancro da próstata.
Se ao tomate e à soja acrescentarmos brócolos, talvez possamos aumentar ainda mais as propriedades anticancerígenas destes alimentos. Um estudo sugere que quando consumidos em simultâneo,tomates e brócolos são mais eficazes a inibir o crescimento do cancro da próstata. Além disso, os tomates quando cozinhados com um pouco de azeite possibilitam uma maior absorção dos seus fitoquímicos.
Carotenóides. O que são?
Os carotenóides são os pigmentos amarelos, laranja e vermelhos naturalmente presentes nos frutos e vegetais. Existem mais de 600 carotenóides; os mais consumidos e estudados incluem o beta-caroteno, alfa-caroteno, beta-criptoxantina, licopeno, luteína e a zeaxantina. O alfa-caroteno, beta-caroteno e a beta-criptoxantina são provitaminas A, o que significa que podem ser convertidos pelo organismo em retinol. Os carotenóides podem ser genericamente classificados em duas classes: os carotenos (alfa e beta-caroteno e licopeno) e xantofilas (beta-criptoxantina, luteína e zeaxantina).
Metabolismo e biodisponibilidade
A assimilação dos carotenóides requer a presença de gordura numa refeição. Cerca de 3 a 5 gr. de gordura parecem ser suficientes para garantir a sua absorção. Nos intestinos e no fígado, os carotenóides provitamina A podem ser quebrados de forma a produzir retinol, uma forma de vitamina A. A eficácia desta conversão é determinada pelos níveis de vitamina A de cada um.
Licopeno: esta substância apresenta várias propriedades anticancerígenas sendo um poderoso antiangiogénico (inibição da vascularização do tumor) através da inibição do fator de crescimento PDGF (responsável por ativar a geração de novos vasos sanguíneos). Em estudos animais, o licopeno inibe o desenvolvimento dos cancros da mama, fígado, colon, próstata, além de suprimir as metástases. O Estudo em Profissionais de Saúde (Health Professionals Follow-Up Study), desenvolvido pela Harvard Medical School, no qual foram seguidos 51000 homens, mostrou que a população que consumiu mais licopeno apresentou uma redução de 15% no risco de desenvolver cancro da próstata quando comparada com homens com um menor consumo. Esta molécula torna-se mais biodisponível quando cozinhada, utilizando um pouco de gordura. Nesse mesmo estudo, aqueles homens que consumiram mais do que duas porções semanais de pasta de tomate apresentaram 23% menor risco de cancro da próstata quando comparados com aqueles que consumiam menos de uma porção por mês. O licopeno é melhor absorvido a partir de frutos e vegetais que o contêm depois de cozinhados e reduzidos a puré. Quebrar as células do alimento rico em licopeno pelo calor permite uma melhor extração da molécula bom como mudanças na sua estrutura que a tornam mais biodisponível. As gorduras aumentam igualmente a biodisponibilidade do licopeno, pelo que é recomendável cozinhar vegetais como os tomates num pouco de azeite até fazer uma pasta, de forma a melhor aproveitar as suas propriedades.
O licopeno pode ser encontrado nos tomates, melancia ou pimentos vermelhos.
Referências:
Fonte: http://blog.projetosafira.org/2013/05/14/soja-e-tomate-juntos-poderao-prevenir-melhor-o-cancro-da-prostata/
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