Vê-se, frequentemente, o assumir que uma substância se comporta de uma única
maneira, ou faz bem ou faz mal e esquecemo-nos que o nosso corpo é complexo e que
apesar de termos necessidades nutricionais semelhantes, cada um de nós é único,
como tal responde de forma diferente àquilo que consumimos e que os alimentos
que ingerimos tendem a ter funções diferentes, após ingeridas, por cada um de
nós...Como um antigo professor dizia: “Olha
para a floresta e não apenas para a árvore”. É exactamente isso que vamos
fazer...
O ácido
fítico (fitatos) é uma substância que se encontra em muitos alimentos de origem
vegetal, como os cereais, as leguminosas, as nozes e as sementes, sendo
considerado um anti-nutriente e muitas vezes levado ao extremo do negativismo
quando se fala na alimentação vegetariana. Pois bem, o ácido fítico é a forma de armazenamento do fósforo, um mineral utilizado na produção de energia e na formação de elementos
estruturais, como as membranas celulares. Este, encontra-se predominantemente na
camada externa dos cereais integrais e quase inteiramente no endosperma das
leguminosas e sementes.
O dilema é
que esses alimentos, considerados saudáveis e nutritivos, têm uma péssima
reputação com base no seu teor de ácido fítico. E porquê? Porque o ácido fítico liga-se aos minerais essenciais, como o ferro, o cálcio, o zinco e o magnésio no tracto digestivo, dificultando a
sua absorção pelo corpo.
No entanto,
a gravidade dos efeitos do ácido fítico na saúde tende a ser um pouco exagerada
e apesar de ser repudiado por reduzir a absorção de minerais, o ácido fítico tem também o outro lado da moeda, ora vejam só:
Anti-Cancerígeno: Embora a investigação em seres humanos seja um pouco escassa, tem
havido vários estudos que indiciam os potenciais efeitos favoráveis do ácido
fítico na luta contra as células cancerígenas. Caso se confirme, este facto
ajuda a explicar parcialmente o porquê das dietas ricas em fibras estarem
associadas à redução do risco de cancro do cólon.
Antioxidante: O ácido fítico tem propriedades antioxidantes, particularmente no
que diz respeito ao ferro. Sabe-se que o ferro pode comportar-se como um
radical livre, contribuindo para o stress oxidativo no organismo. Neste
contexto, a capacidade do ácido fítico de enclausurar o ferro é positiva, pois neutraliza qualquer radical livre.
É óbvio que a
oxidação do organismo é um processo habitual, mas esta oxidação pode ser
extrema, especialmente quando o corpo está sob stress.
Colesterol e índice glicémico: O ácido fítico apresenta resultados favoráveis na redução do
colesterol e na resposta glicémica a certos alimentos. Este ácido parece ter a
capacidade de evitar um potencial pico de açúcar no sangue após a ingestão de
hidratos de carbono.
Como
podemos constatar (e este texto é uma pequena amostra do que se tem vindo a
descobrir), o ácido fítico não é assim tão vilão quanto isso. Na minha opinião
pessoal, uma pessoa que tenha uma alimentação menos cuidada, que esteja exposta
frequentemente a metais pesados, uma pessoa que tome muita medicação, ou seja,
que o organismo esteja exposto a uma maior carga oxidativa, pode beneficiar de
um maior consumo de ácido fítico. Claro está que reduzir a sua quantidade na
alimentação, principalmente na alimentação de pessoas que têm como base um regime vegetal é importante e para isso basta incorporar fontes de vitamina C nas
refeições e manipular os alimentos através da sua imersão, germinação ou
fermentação para que o conteúdo em ácido fítico seja reduzido.
Então? Vamos continuar a olhar apenas para a árvore?
Referencias:
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